Antes de responder à pergunta do título, precisamos entender algo que antecede a ela: o que é cultura? Falamos em “incentivar a cultura”, em ser “culto” ou não ser “culto”, em “programas culturais”, em “diferentes culturas”… Essa palavra aparece nos nossos discursos e conversas do dia-a-dia, mas se eu lhe perguntasse, afinal de contas, o que é cultura? Todos temos uma cultura? Podemos escolher qual cultura queremos? Podemos não ter cultura?
A cultura, ou as culturas, têm a ver com nosso “conteúdo social”, ou seja, tudo aquilo que produzimos socialmente, externamente ao indivíduo, e que passamos de geração em geração. Nossas atitudes, padrões de comportamentos, ideias, crenças, conhecimentos, técnicas, objetos, construções, vestuários, língua, caracterizam nossa sociedade e assim determinam nossa cultura, “[…] em sentido mais amplo significa que todo cultural é social. Justamente a cultura é um produto da vida social e da atividade social do ser humano.” (VIGOTYSK 1995:151 apud MARTINS e RABATINE, 2011)
Sendo assim, pertencemos a uma cultura primeira, aquela na qual nascemos inseridos, e nos desenvolvemos como seres sociais, absorvendo-a e também transformando-a. Considerando a cultura como padrões de comportamentos, ideias, técnicas, temos a possibilidade também de pertencer a outras culturas, conhecendo outras formas de ser e estar no mundo, buscando agir de determinada maneira.
A cultura Hip Hop nem sempre existiu, e podemos considerá-la uma cultura recente se comparada com tantas outras. Foi na década de 1970 em Nova Iorque (EUA), num período de transformação e desvalorização urbana da região do Bronx, que surgiram as gangues de rua – e com elas, a criminalidade e a violência. Muitos jovens passaram por essas gangues, se envolvendo com drogas, crimes e miséria. Em 1973 elas chegaram ao topo das suas atividades, e aos poucos uma foi acabando com a outra, e muitos decidiram não se envolver mais com isso. Nesse momento, a dança (b-boy), a música (DJ) , o graffite e o RAP entram em cena. O que fariam tantos jovens, com o seu tempo livre? Quanto mais as gangues desapareciam, mais os jovens saíam à procura dessas atividades. Em festas, nas batalhas de rua, agora a ideia era competir com a criatividade e não com a violência.
Kool Herc é considerado o “pai” da cultura Hip-Hop – ele contribuiu muito para seu nascimento, crescimento e desenvolvimento. Como DJ, ele descobriu uma forma muito diferente de tocar os seus discos, dando mais possibilidades para a criatividade na pista. Afrika Bambaataa também tem seu papel de importância no surgimento da cultura Hip-Hop – é conhecido como o “padrinho” ou o “avô” da cultura Hip-Hop. Ele criou a organização Zulu Nation, e através dela possibilitou a união dos quatro elementos, o Djing, o RAP, o B.Boying (a dança B.Boy, Poppin, Lockin e Up-rockin), o Mcing e o graffite, em uma única cultura – o que contribuiu para acelerar o desenvolvimento de cada um dos elementos individualmente, aprimorando-os. O desafio agora era mostrar suas habilidades e criatividade nas festas, sem copiar o próximo ou roubar idéias do outro. A lei era: paz, unidade, amor e divertimento.
Podemos dizer que a cultura Hip-Hop é então um estilo de vida, que começou lá no Bronx (EUA) de maneira muito positiva e se espalhou pelas outras sociedades no mundo, carregando consigo suas crenças, atitudes, comportamentos, músicas, traços, movimentos. Temos a possibilidade de escolher conhecer essa cultura, experimentando alguns dos seus elementos, aprender sobre e com sua história e filosofia. Mas para pertencer ao Hip Hop, você precisaria realmente viver dentro dessa cultura, caminhando em busca das reais intenções que ela propõe.
Vivian Shimizu